Religião: Inquisição em Terras Lusitanas



As negociações entre a Coroa portuguesa e a Cúria romana, que procederam o estabelecimento da Inquisição em Portugal, duraram mais de trinta anos. Durante este período, o dinheiro oferecido pelos cristãos-novos contrabalanceava as ofertas da Coroa portuguesa, oscilando em função disso a decisão do papado.
Por volta de 1530, o Estado português, começa a sofrer uma grave crise econômica. O governo de D. João III empenhou-se em luta com a Santa Sé, disputando a distribuição das rendas da igreja e a supremacia dos negócios eclesiásticos do reino.
Ainda em 1525, no primeiro pedido para o estabelecimento do Santo Ofício em Portugal, D.João III remete a Roma sua pretenção e nela pretendia-se apenas julgar os acusados de heresia, ainda sem a violação do segredo das testemunhas e o confisco de bens. Mas a corte romana defendia então uma política generosa em relação aos cristãos-novos, não apenas porque os ideais do Renascimento se inspiravam num clima de paz cristã, como ainda por reconhecer a dinâmica da gente mosaica na formação dos Estados modernos. Pelo que se vê o jogo de interesses é maior do que cumprir os mandamentos de Deus e combater os infiéis aos olhos da igreja.
As negociações continuam até que a Inquisição se estabelece em território lusitano, pela bula de 23 de maio de 1536, que nomeia três inquisidores, os bispos de Lamego, Coimbra e Ceuta. Os termos da bula são benevolentes, reservando aos bispos o direito sobre as coisas da fé e concedendo aos acusados o direito de defesa, bem como proibindo a confiscação de seus bens durante, pelo menos dez anos, pois bem sabia o papa do exemplo da Inquisição espanhola, onde os mais vigiados e acusados eram os comerciantes de sangue judeu.
É evidente que tais disposições seguiam os rigores da Inquisição medieval e era orientada pelo Manual dos Inquisidores. Assim, quando a bula menciona a defesa do réu esta deve se proceder da maneira habitual, com um advogado escolhido pela Inquisição, que deveria agilizar o processo e fazer com que o réu se arrependesse logo .
Além disso, a Inquisição portuguesa é instituída em pleno século XVI, quando a economia capitalista começa florescer e os interesses clericais começam a girar em torno de outros objectivos, do que meramente perseguir hereges e combater heresias.
O primeiro auto-de-fé realizou-se em Lisboa, a 20 de setembro de 1540, seguindo-se outros em Coimbra, Porto, Lamego, Tomar e Évora. Devido a contínuos desentendimentos, o papa mandou suspender a actividade do Tribunal do Santo Ofício em 1544.
O governo português inconformado, propõe negociações e mais negociações até que o papa, diante de uma proposta irrecusável que trazia incomparáveis vantagens econômicas, percebeu a urgência e a necessidade de se combater as heresias e propagar a fé cristã em terras portuguesas e pela bula meditatio cordis, de 16 de julho de 1547, revigora-se a fé católica restabelecendo a Inquisição neste país.
A partir de então a Inquisição portuguesa presencia momentos de extrema eficiência, mas com requintes de crueldade, como os anos em que foi inquisidor-mor D. Henrique, irmão de D. João III, onde ocorreu o corte de toda apelação dos cristãos-novos a Roma e a concentração numa mesma pessoa, rei e inquisidor, a suprema autoridade política e a suprema autoridade religiosa. Assim o Tribunal do Santo Ofício assume o centro de poder do Estado português, mandando e desmandando da forma que lhe conviesse as dissidências da igreja católica.
Mas nem tudo se procedue de forma tranquila e a Inquisição lusitana encontrou oposição no seio da própria igreja, na figura do padre Antonio Vieira, que tentou de todas as formas impedir a acção do Santo Ofício, tanto que chegou a ir á Roma para denunciar ao papa Clemente IX os métodos e as injustiças da Inquisição portuguesa.
Seu brilhantismo foi tal que em 1674, o papa suspende as actividades do Santo Ofício, mas por pouco tempo pois os hereges portugueses tinham de ser perseguidos e em 1681, o Tribunal de Deus volta as suas atividades normais.
Ao se instaurar a Inquisição em Portugal, algo mudou nesta sociedade. Os povos que viviam relativamente bem foram hostilizados uns contra os outros, e quem saiu perdendo foi o cristão-novo, pois além de assumir perante a igreja, a figura de um grupo perigoso, ele também possuía as riquezas que a igreja tanto precisava para empreender as obras de Deus.
A acção do Santo Ofício português atingiu de forma, quase direta, o povo judeu. Entretanto não se deve esquecer que vários outros grupos e dissidências fizeram parte da lista maldita da Inquisição, porém a ação sobre estes grupos se fazia de forma mais branda e amena para não despertar a crença de que a Inquisição fora instalada para angariar recursos.
- Fonte: http://www.cav-templarios.hpg.ig.com.br/

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